Ensinar os Filhos a Sentir: O Caminho Seguro para Educar Emoções
- Mady Moreira
- há 2 dias
- 5 min de leitura

Muitos de nós crescemos sem aprender a lidar com as próprias emoções.
Quando crianças, ouvimos frases como “engole o choro”, “para já com essa birra” ou “não tens motivos para estar assim”. O resultado? Tornámo-nos adultos que, muitas vezes, não sabem reconhecer o que sentem, ou que carregam culpas e arrependimentos por não conseguirem reagir de forma saudável.
Hoje, uma nova geração de pais e mães quer fazer diferente. Quer ensinar os filhos a sentir, dar nome às emoções e mostrar-lhes caminhos seguros para descarregar a raiva, a tristeza e até a alegria intensa. Mais do que disciplina, isso é educação emocional. É oferecer ferramentas que servirão para toda a vida.
E a boa notícia? Ao ensinar os filhos a sentir, também curamos feridas antigas em nós mesmos.
O que significa ensinar os filhos a sentir?
Ensinar os filhos a sentir não é evitar que sintam emoções “difíceis”. Pelo contrário: é acolher, validar e orientar. É transmitir a mensagem:
Todos os sentimentos são permitidos.
Nem todos os comportamentos são aceitáveis.
Existem formas seguras de descarregar o que o corpo sente.
Por exemplo: uma criança pode estar furiosa. O que não pode é bater no irmão. Em vez de dizer “para já com essa raiva”, podemos dizer:
“Isso é raiva. Sentir raiva é normal. Não podes magoar ninguém, mas podes bater na almofada ou gritar aqui comigo.”
Este simples gesto ensina autorregulação, empatia e autoconhecimento.
Por que é tão importante ensinar os filhos a sentir?
1. Emoções não desaparecem quando são reprimidas
Reprimir um choro ou uma raiva não elimina o sentimento. Apenas o empurra para dentro, onde pode transformar-se em ansiedade, comportamentos agressivos ou dificuldades de relação.
2. Emoções nomeadas são emoções reguladas
O psicólogo Daniel Siegel, autor de O Cérebro da Criança, chama a isto “name it to tame it” (“nomear para dominar”). Quando a criança aprende a identificar “isto é medo”, “isto é tristeza”, ativa áreas do cérebro ligadas à calma e à lógica.
3. Ensinar a sentir é preparar para a vida adulta
Um adulto que sabe reconhecer e gerir o que sente é mais resiliente, tem melhores relações e consegue tomar decisões mais conscientes.
4. A relação entre pais e filhos fortalece-se
Quando um filho sente que pode expressar-se sem medo de julgamento, cresce mais confiante e seguro do amor dos pais.
A criança que fomos também está presente
Muitos pais descobrem na prática que, ao lidar com a birra de um filho, não é só a criança diante deles que reage — mas também a criança interior que eles próprios foram.
Quantas vezes gritamos porque estamos exaustos, ou porque nunca aprendemos a gerir a raiva de outra forma? Quantas vezes, após explodir, vem a culpa?
Reconhecer isto é libertador. Significa que ao ensinar os filhos a sentir, também estamos a reeducar a criança que fomos. É dizer a nós mesmos:“Eu também merecia ter ouvido: ‘está tudo bem sentir’. Agora vou dar isso ao meu filho e, ao mesmo tempo, a mim.”
O poder de reparar os erros
Não existem pais perfeitos. Haverá dias em que vamos perder a paciência, levantar a voz ou reagir mal. Mas até isso pode ser oportunidade de educação.
Dizer ao filho:
“Eu exagerei. Não devias ter ouvido dessa forma. O certo era ter falado com calma. Vamos respirar juntos?”
…ensina que pedir desculpa é sinal de coragem, não de fraqueza. Mostra que todos erramos, mas podemos reparar e tentar de novo.
Esse modelo é poderoso: a criança aprende que não precisa ser perfeita, apenas honesta e disposta a melhorar.
Estratégias práticas para ensinar os filhos a sentir
1. Dar nome às emoções no momento certo
Exemplo: “Vejo que estás frustrado porque não conseguiste montar o puzzle. Isso é frustração. Vamos tentar juntos?”
2. Oferecer alternativas seguras de descarga
Bater numa almofada.
Gritar no travesseiro.
Rasgar papel.
Fazer respirações profundas enquanto abraça um peluche.
3. Criar um “canto da calma” em casa
Um espaço acolhedor, com almofadas, brinquedos sensoriais ou livros, onde a criança possa acalmar-se sem se sentir castigada.
4. Usar histórias e livros
Livros infantis que falam sobre emoções ajudam a criança a identificar o que sente de forma divertida.
5. Praticar nos dias tranquilos
Nos momentos de calma, simular situações:
“E se ficasses com muita raiva porque o teu brinquedo partiu? O que podias fazer em vez de bater?”
Assim, quando a emoção surgir de verdade, a criança já terá um repertório de opções.
Exemplos reais de frases que ajudam
“Eu vejo a tua raiva. O que podes fazer com ela?”
“Estou aqui contigo, mesmo quando estás triste.”
“Não é errado sentir ciúmes. Vamos falar sobre isso?”
“Estou a ouvir-te. Conta-me o que se passa.”
“Vamos respirar juntos antes de decidir o que fazer.”
Estas frases transmitem segurança, acolhimento e, ao mesmo tempo, ensinam limites.
O papel da repetição
Crianças aprendem por repetição. Isso significa que precisaremos repetir muitas vezes:“Está tudo bem sentir.”“Não podes magoar ninguém.”“Podes descarregar de forma segura.”
Com o tempo, elas internalizam. A repetição não é sinal de falha, mas de aprendizagem em construção.
Benefícios de ensinar os filhos a sentir
Reduz o número e a intensidade das birras.
Melhora a comunicação familiar.
Cria adultos mais empáticos e resilientes.
Diminui o stress parental, porque os pais passam a ter estratégias.
Promove autoestima e confiança na criança.
Exercícios práticos para pais
Exercício 1: O diário das emoções
Durante uma semana, anote num caderno:
O que o seu filho sentiu.
Como reagiu.
O que você disse.
Qual foi o resultado.
Reflita no final: que frases ajudaram mais?
Exercício 2: A caixa das opções
Monte com o seu filho uma caixa com ideias de “descarga segura”: desenhar, saltar, cantar alto, rasgar jornal. Quando a raiva vier, ele escolhe uma opção da caixa.
Exercício 3: Pausa consciente
Crie um sinal (mão no coração, por exemplo) que significa: “preciso de pausa”. Ensine o filho a usar quando estiver sobrecarregado.
E quando os pais também se sentem sobrecarregados?
Não podemos ensinar calma se estivermos em ebulição. Assim, cuidar de si é parte essencial.
Respire fundo antes de responder.
Se precisar, afaste-se um minuto.
Peça desculpa se explodir.
Lembre-se: os filhos não precisam de pais perfeitos, mas de pais humanos e presentes.
Ensinar os filhos a sentir é um dos maiores legados que podemos deixar. É preparar os nossos filhos para a vida, ajudá-los a crescer com segurança interior e, ao mesmo tempo, curar as marcas da nossa infância.
Não é um caminho rápido nem perfeito. É feito de pequenas frases, repetições, reparações e, sobretudo, presença.
Comece pequeno: uma frase, um minuto de pausa, uma respiração conjunta.
Com o tempo, verá que a casa se torna um espaço onde todos os sentimentos são bem-vindos — mas onde todos aprendem a escolher atitudes que constroem e não destroem.
FAQ – Perguntas Frequentes
1. O que faço quando o meu filho faz birras em público?
Respire fundo, abaixe-se e reconheça a emoção: “Vejo que estás zangado. Não podes bater, mas podes segurar a minha mão forte.” Ignore olhares externos. O foco é no seu filho, não nos outros.
2. Ensinar os filhos a sentir não os torna mais frágeis?
Não. Pelo contrário. Crianças que aprendem a nomear e descarregar emoções de forma saudável tornam-se adultos mais fortes, com maior capacidade de resiliência.
3. E se eu própria nunca aprendi a lidar com emoções?
Comece junto com o seu filho. Diga frases como: “Estou a aprender contigo.” Partilhe a vulnerabilidade. É um processo de crescimento em família.
4. Como diferenciar limites de repressão?
Reprimir é negar o sentimento (“não chores”). Limitar é aceitar o sentimento, mas orientar o comportamento (“podes chorar, mas não podes bater no irmão”).
5. A partir de que idade devo começar?
Desde cedo. Mesmo bebés sentem raiva e frustração. Claro que a linguagem será adaptada, mas acolher o choro já é o primeiro passo de educação emocional.
👉 Já aplicaste alguma destas estratégias com o teu filho?
👉 Quais frases mais funcionam na tua casa?
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