Empatia na Educação: O Segredo Dinamarquês que Pode Transformar o Futuro das Crianças
- Mady Moreira
- 27 de ago.
- 6 min de leitura

Em Portugal, ainda existe uma forte cultura escolar centrada na competição. Desde cedo, os alunos são incentivados a conquistar as melhores notas, a destacar-se acima dos colegas e a serem “os melhores da turma”. Embora o mérito académico deva ser valorizado, esta visão limitada da educação ignora algo fundamental: o desenvolvimento da empatia.
A empatia não é apenas uma característica simpática de quem “tem jeito” para lidar com os outros. É uma habilidade treinável, com impacto comprovado no cérebro, nas emoções, nas relações e até na vida profissional. Países como a Dinamarca já compreenderam isto e incluem aulas semanais de empatia entre os 6 e os 16 anos, equiparando esta competência a disciplinas como matemática ou língua materna.
E os resultados estão à vista: menores índices de bullying, maior cooperação entre colegas, melhor desempenho escolar a longo prazo e adultos mais felizes e realizados.
Neste artigo, vamos explorar o conceito de empatia na educação, perceber como pode ser ensinada, analisar o exemplo dinamarquês e refletir sobre como Portugal (e outros países) poderiam beneficiar desta mudança de paradigma.
O que é a Empatia e Porque é Essencial na Educação
Antes de entrarmos nos exemplos práticos, precisamos de esclarecer: o que é empatia?
Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, compreender os seus sentimentos e responder de forma adequada. Vai muito além de “ter pena” ou de ser simpático. Trata-se de um processo cognitivo e emocional que envolve três dimensões:
Empatia cognitiva: compreender a perspetiva do outro.
Empatia emocional: sentir de forma próxima o que o outro sente.
Empatia compassiva: transformar essa compreensão em ação.
Na educação, a empatia funciona como uma ponte entre o desenvolvimento académico e o humano. Quando as crianças aprendem a reconhecer e validar emoções, constroem bases sólidas para a regulação emocional, a cooperação e a resolução de conflitos.
Num sistema que valoriza apenas a competição, as crianças podem crescer a ver os colegas como rivais. Num sistema que promove a empatia, aprendem a vê-los como aliados.
O Exemplo da Dinamarca: Aulas Semanais de Empatia
A Dinamarca é frequentemente apontada como um dos países mais felizes do mundo, e a educação desempenha aqui um papel central.
Desde os 6 até aos 16 anos, todas as crianças têm uma aula semanal de empatia na educação. Não se trata de uma atividade opcional ou extracurricular, mas de uma disciplina integrada no currículo, com o mesmo peso de matemática ou português.
O que acontece nestas aulas?
Diálogo aberto: as crianças partilham situações do quotidiano e aprendem a refletir sobre sentimentos.
Histórias e literatura: livros infantis são usados para trabalhar emoções e perspetivas.
Trabalho em equipa: cerca de 60% das tarefas escolares são feitas em grupo, promovendo cooperação em vez de rivalidade.
Resolução de conflitos: os alunos aprendem a encontrar soluções pacíficas e construtivas.
O impacto é notável: as taxas de bullying caem para cerca de 6% e as crianças desenvolvem competências sociais que as acompanham por toda a vida.
Empatia e Neurociência: Como o Cérebro Aprende a Cuidar do Outro
A neurociência confirma: a empatia não é apenas um traço de personalidade, é uma habilidade moldável. Estudos mostram que, quando uma criança pratica empatia, áreas do cérebro associadas à regulação emocional e à perspetiva social são ativadas e fortalecidas.
Ou seja, ao ensinar empatia, treinamos literalmente o cérebro para responder melhor às emoções próprias e alheias.
Entre os benefícios mais estudados estão:
Melhoria da resolução de conflitos.
Redução de stress e ansiedade.
Aumento da cooperação e solidariedade.
Melhor desempenho académico, já que crianças emocionalmente reguladas aprendem melhor.
Isto desmonta a ideia de que “perder tempo” com emoções atrapalha o estudo. Pelo contrário, investir em empatia cria condições ideais para o sucesso escolar e pessoal.
O Contraste com Portugal: Competição vs. Cooperação
Em Portugal, a realidade ainda é bastante diferente. O sistema valoriza sobretudo os resultados individuais: a melhor nota, o primeiro lugar, a medalha, o troféu.
Embora o esforço pessoal seja importante, esta cultura competitiva traz efeitos colaterais:
Crianças que veem os colegas como ameaça.
Maior probabilidade de bullying e exclusão social.
Ansiedade e medo de falhar, em vez de prazer em aprender.
Adultos menos preparados para trabalhar em equipa.
O contraste com a Dinamarca mostra-nos que a cooperação não diminui o desempenho académico. Pelo contrário, potencia-o. Crianças que aprendem a colaborar constroem ambientes de apoio mútuo que beneficiam a todos.
Benefícios da Empatia na Educação
Se Portugal integrasse a empatia na educação de forma estruturada, os ganhos seriam imensos. Eis alguns dos principais:
1. Redução do Bullying
Ambientes empáticos reduzem a agressividade e criam uma cultura de respeito.
2. Melhoria do Clima Escolar
Turmas mais unidas, professores mais respeitados e maior envolvimento dos alunos.
3. Sucesso Académico
Alunos emocionalmente equilibrados concentram-se melhor e aprendem mais.
4. Relações Mais Saudáveis
A empatia ensina desde cedo a valorizar amizades e a construir vínculos sólidos.
5. Preparação para o Mercado de Trabalho
Empregos estáveis e de qualidade dependem cada vez mais da capacidade de cooperar e comunicar.
6. Adultos Mais Felizes
Quem cresce a praticar empatia tende a manter relações familiares e sociais mais fortes.
Como Ensinar Empatia: Dicas Práticas para Pais e Educadores
Mesmo sem uma disciplina oficial de empatia em Portugal, pais e educadores podem começar já a aplicar estratégias.
Perguntas que estimulam reflexão
Em vez de apenas dizer “sê simpático”, pergunte:
“Como achas que ele/ela se sente?”
“O que poderias fazer para ajudar?”
Modelar comportamentos
As crianças são grandes imitadoras. Se virem os adultos a agir com empatia — seja em casa, na escola ou no trabalho — vão reproduzir esses comportamentos.
Promover trabalho em equipa
Criar atividades em grupo, onde todos têm responsabilidades e cada contributo é valorizado.
Usar histórias e jogos
Livros, filmes e jogos cooperativos são excelentes recursos para discutir emoções e perspetivas.
Validar sentimentos
Ensinar que sentir tristeza, raiva ou frustração é natural, mas mostrar formas saudáveis de lidar com essas emoções.
Exemplos Reais de Aplicação da Empatia
Nas escolas
Projetos de tutoria entre alunos mais velhos e mais novos.
Espaços de mediação de conflitos.
Clubes de solidariedade ou voluntariado.
Em casa
Partilhar histórias pessoais de quando os pais ou avós sentiram algo difícil.
Incentivar irmãos a resolverem divergências sem castigos automáticos, mas com diálogo orientado.
O Futuro da Educação: Do “Melhor do Mundo” para “Melhorar o Mundo”
O maior ensinamento da experiência dinamarquesa é que o objetivo não é criar crianças que sejam as melhores do mundo, mas sim crianças que cresçam para melhorar o mundo.
A empatia prepara as novas gerações para enfrentarem os desafios sociais e emocionais do século XXI: desigualdades, crises ambientais, conflitos culturais. Precisamos de cidadãos capazes de cooperar e de cuidar, não apenas de competir.
A empatia na educação não é um luxo nem uma moda. É uma necessidade urgente para formar adultos mais preparados, felizes e responsáveis. O exemplo da Dinamarca mostra que é possível — e desejável — ensinar empatia de forma estruturada.
Portugal, e outros países que ainda seguem modelos excessivamente competitivos, têm muito a ganhar ao repensar o papel da escola. Ensinar matemática e português é essencial, mas ensinar empatia é igualmente vital.
Se queremos um futuro com menos bullying, mais cooperação, maior sucesso académico e relações humanas mais saudáveis, precisamos de colocar a empatia no centro da educação.
Perguntas para o leitor
👉 Já paraste para pensar como seria a escola do teu filho se a empatia fosse ensinada como disciplina obrigatória?
👉 O que fazes em casa para estimular o olhar empático nas tuas crianças?
👉 Achas que Portugal está preparado para seguir este exemplo da Dinamarca?
FAQ sobre Empatia na Educação
1. Empatia é algo inato ou pode ser ensinado?
A empatia tem uma base natural, mas pode e deve ser desenvolvida através de práticas educativas.
2. Qual a idade ideal para começar a ensinar empatia?
Desde a infância, a partir dos 2-3 anos já é possível estimular com perguntas simples e exemplos práticos.
3. Ensinar empatia atrapalha o desempenho escolar?
Pelo contrário, ajuda na concentração e na cooperação, favorecendo melhores resultados.
4. Como os pais podem incentivar a empatia em casa?
Mostrando exemplo, validando sentimentos e promovendo diálogos sobre emoções.
5. Que países já adotaram práticas semelhantes à Dinamarca?
Além da Dinamarca, países nórdicos em geral, como Suécia e Noruega, também investem fortemente em programas de empatia nas escolas.
























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