Como o Seu Filho o Vê em Cada Fase da Infância: As 7 Mudanças do Neurodesenvolvimento
- Mady Moreira
- 7 de ago.
- 5 min de leitura

Você sabia que como o seu filho o vê muda pelo menos sete vezes ao longo da infância e adolescência?
Esta transformação na perceção parental não tem a ver com amor — que permanece como um fio contínuo — mas sim com o neurodesenvolvimento, ou seja, as mudanças que acontecem no cérebro da criança à medida que ela cresce.
Entender estas fases ajuda não só a aliviar conflitos, mas também a construir uma relação mais forte, empática e consciente. Neste artigo, vamos explorar, com base na ciência, como essa visão se transforma — e como pode apoiar cada fase com sabedoria.
Por que a perceção muda? Um olhar sobre o cérebro em crescimento
Antes de mergulharmos nas sete mudanças, é importante compreender por que o seu filho muda como o vê.
À medida que o cérebro infantil amadurece, diferentes áreas passam por “picos” de desenvolvimento. Estas transformações afetam:
A interpretação de intenções
A compreensão de limites
A autonomia emocional
A regulação da empatia e da frustração
Autores como Daniel Siegel, Tina Bryson e Laurence Steinberg explicam que o cérebro passa por “obras internas” intensas desde o nascimento até ao final da adolescência — e cada uma dessas fases traz uma nova forma da criança se relacionar consigo... e consigo mesmo.
Fase 1 – O Ser Mágico: "A mamã e o papá são tudo!"
Idade típica: 0 aos 3 anos
Como o seu filho o vê: Um ser omnipotente, mágico e protetor.
Nesta fase, o seu filho está a construir a base do apego seguro. Para ele, você é o mundo: a fonte de alimento, de conforto, de calor, de segurança. Não há separação entre “eu” e “tu” — é como se fossem uma extensão um do outro.
O que fazer nesta fase:
Responda com consistência: O cérebro ainda imaturo precisa de previsibilidade.
Toque, colo e presença: São fundamentais para formar conexões neuronais saudáveis.
Crie uma rotina afetuosa: Isso ajuda a criança a se sentir segura no mundo.
Fase 2 – A Autoridade Suprema: "Tudo o que dizes é verdade"
Idade típica: 3 aos 6 anos
Como o seu filho o vê: Um guia absoluto, que sabe tudo e manda em tudo.
Agora, o cérebro começa a compreender regras e limites. A sua palavra é lei — e a criança aceita isso como verdade. Não estranhe se ouvir frases como: “A minha mãe disse que é assim!” ou “O meu pai sabe tudo!”
O que fazer nesta fase:
Use a sua influência com responsabilidade: Esta é a fase ideal para ensinar valores.
Evite contradições constantes: Isso causa confusão e insegurança.
Incentive perguntas e pensamento crítico: Mesmo que ainda aceite a sua palavra como “lei”.
Fase 3 – O Primeiro Questionamento: "Mas por quê?"
Idade típica: 6 aos 9 anos
Como o seu filho o vê: Uma figura forte, mas passível de ser desafiada.
Aqui começa a curiosidade lógica. O seu filho começa a procurar explicações para tudo — e não aceita mais um “porque sim” como resposta. Ao mesmo tempo, a escola e os colegas começam a ter influência crescente.
O que fazer nesta fase:
Explique os porquês: Ajuda a desenvolver raciocínio e respeito.
Aceite desafios como parte saudável do crescimento.
Inclua a criança em pequenas decisões.
Fase 4 – O Inimigo Injusto: "Tu não me entendes!"
Idade típica: 9 aos 12 anos
Como o seu filho o vê: Uma barreira entre ele e a sua vontade.
Esta é uma fase de transição difícil. As emoções intensificam-se, há maior sensibilidade e muitas vezes, começa a surgir rebeldia. Qualquer limite imposto pode parecer “injusto” ou “desnecessário”.
O que fazer nesta fase:
Mantenha-se firme, mas com empatia.
Reconheça as emoções, mesmo quando discorda do comportamento.
Evite levar as críticas para o lado pessoal.
Fase 5 – O Alienígena em Casa: "Ninguém me entende"
Idade típica: 12 aos 14 anos
Como o seu filho o vê: Um ser ultrapassado, antiquado e... embaraçoso.
A puberdade chegou e o cérebro adolescente está a ser “remodelado” a alta velocidade. O adolescente sente necessidade de afirmar-se pela diferença e, muitas vezes, rejeita tudo o que é familiar. Isso inclui os pais.
O que fazer nesta fase:
Mantenha portas abertas para o diálogo.
Não reaja com exagero às provocações.
Demonstre que está presente, mesmo que ele finja que não precisa.
Fase 6 – O Ser Humano com Falhas: "Os meus pais não são perfeitos"
Idade típica: 14 aos 17 anos
Como o seu filho o vê: Um ser humano real, com falhas, passado e contradições.
Neste momento, o adolescente já tem capacidade cognitiva para avaliar a complexidade. Começa a ver que os pais erram, que nem sempre têm razão, que têm histórias próprias. Isso pode gerar deceção... ou empatia.
O que fazer nesta fase:
Seja honesto sobre os seus próprios erros.
Partilhe experiências reais da sua juventude.
Abrace o diálogo sem imposições.
Fase 7 – O Amor Adulto: "Amo-te como és"
Idade típica: 17 anos em diante (e para sempre)
Como o seu filho o vê: Uma pessoa amada, com luzes e sombras.
Chega a fase em que a visão se equilibra: o seu filho começa a vê-lo como um adulto falho, mas digno de amor. A admiração idealizada transforma-se em afeto maduro, com espaço para perdão, gratidão e reconexão.
O que fazer nesta fase:
Deixe que a relação evolua.
Permita mais autonomia emocional e prática.
Esteja disponível, mas sem invadir.
A ciência por trás dessas transformações
As mudanças descritas aqui são fundamentadas em estudos de:
Daniel Siegel e Tina Bryson, autores de O Cérebro da Criança, que explicam o funcionamento do cérebro infantil e a importância do apego.
Daniel Siegel, em Tempestade Cerebral, descreve a neurobiologia do cérebro adolescente.
Laurence Steinberg, em Age of Opportunity, aprofunda o potencial do cérebro adolescente e o impacto das experiências parentais.
Como estas fases impactam a sua parentalidade
Compreender como o seu filho o vê em cada fase permite:
Diminuir frustrações nos conflitos.
Aumentar a sua empatia como educador.
Ajustar expectativas.
Evitar ruturas emocionais desnecessárias.
Fortalecer o vínculo afetivo.
Mesmo quando o seu filho o vê como um “inimigo injusto” ou como alguém ultrapassado, isso não significa que o deixou de amar — é apenas o cérebro a reescrever a história da relação.
Como o seu filho o vê vai mudar muitas vezes, mas o amor pode ser o elemento constante. Cada fase oferece uma nova oportunidade de crescerem juntos — como família, como seres humanos e como cúmplices da vida.
Ao acolher essas transformações com empatia, presença e informação, você fortalece a relação e prepara o terreno para um amor maduro, autêntico e duradouro.
E você? Já sentiu alguma dessas mudanças na forma como o seu filho o vê?
Como foi lidar com a fase da “rebeldia” ou do “distanciamento”?Partilhe nos comentários — a sua experiência pode ajudar outras famílias!
FAQ – Perguntas Frequentes
1. Estas fases acontecem com todas as crianças?
Embora cada criança seja única, as fases descritas refletem padrões comuns do neurodesenvolvimento. A ordem e intensidade podem variar.
2. E se o meu filho não passar por alguma fase?
Não há problema. O importante é compreender que mudanças de perceção são naturais e fazem parte do processo de crescer.
3. Como posso ajudar o meu filho em fases mais difíceis, como a adolescência?
O mais importante é manter o diálogo aberto, demonstrar empatia e estabelecer limites com respeito.
4. O que fazer se me sinto “rejeitado” pelo meu filho adolescente?
Essa sensação é normal. Mas lembre-se: por trás da rejeição está uma necessidade de independência. Mantenha-se presente, sem se impor.
5. Estas fases também se aplicam a filhos adotivos ou com necessidades especiais?
Sim, embora possam ocorrer em tempos diferentes ou com nuances próprias. O princípio do neurodesenvolvimento é universal.






















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